Saturday, January 21, 2006

Discussão Patriótica

Há uns dias encontrei um amigo dos tempos universitários no msn, e mais por conversa social do que por outra coisa, tocámos num tema de relevância...nacional.

Na frase do tema em discussão, o predicado era a construção do país, os sujeitos eramos nós.
O tempo para entrar em detalhes e argumentações elaboradas foi escasso, e as nossas posições resultaram em grande parte, da defesa das nossas escolhas actuais. Mas ficou a semente da pergunta:
Quem faz mais pela construção do país? Os que ficam? Os que vão?

Bem, antes de começar, um pequeno aparte histórico: A diáspora como fenómeno migratório existe desde sempre (bem no fundo no nosso adn, jaz escondida a molécula da vivência nómada), no caso português tomou nome de movimento desde o século XV, com a expansão geográfica resultante dos Descobrimentos. Inicialmente fruto de uma busca por melhores condições de vida, tipicamente sociais, económicas e/ou religiosas, hoje as motivações são mais abrangentes, incluindo razões culturais e de abertura de horizontes. Dos cerca de 27 mil portugueses (2002) são cada vez mais os que procuram uma experiência de carácter mais temporário e cultural.

Com este contexto, o primeiro pensamento vai para aqueles, que em busca de algo melhor para si e para os seus, deixam para trás um país mais pobre para os que ficam...porque à partida, quando as coisas estão más (ou menos bem, para os optimistas :-)), vão os que podem e os que não têm outra opção. Então, poder-se-ia dizer que "ficar" é acto de bravura, de dedicação, de sentido de estado, como estar no ground zero de uma recuperação que nunca chega. Poder-se-ia dizer que "ficar" é reconhecer as limitação dos recursos, mas compensar com uma vontade extra de começar por baixo (*qualquer similitude com pensamentos sexuais é pura coincidência*). Poder-se-ia dizer que "ficar" é entender que a revolução necessária não virá de cima, mas antes que começa na base - numa metáfora ranhosa que para mudares a natureza (das coisas) um terramoto intenso será mais eficaz que o efeito lento da chuva...(que raio de metáfora...) Bem, o argumento é que para iniciar a mudança at any given moment, é preciso conhecer a realidade e fazer acontecer "in situ".

Do outro lado do espectro, (será bastante óbvio de que lado me encontro eu) está a ideia de que a mudança não se torna realidade pelas massas, mas pelas elites (retiro conotação aristocrata a este termo, refiro-me simplesmente a um grupo mais pequeno e resourceful) that set the example. Falo de casos portugueses de sucesso, de desempregados de uma fábrica têxtil que montam o seu próprio negócio também ele têxtil com base na inovação (prova de que o pano chinês não é melhor que o nosso), falo de empresas tecnológicas que em associação com a Univ. De Aveiro trazem novidades ao mercado de robótica, falo de empresárias que largam o trabalho atrás do balcão e se lançam de cabeça no mundo do design de moda...São modelos aspiracionais que não esperam por políticas estruturais revolucionárias ou mudanças de prioridades no investimento estatal. São pessoas comuns que levantam os olhos do sólo, e olham à volta, a tentar perceber o é que é que o outros fazem bem, que nós tb podemos fazer. Neste sentido, viajar, viver e trabalhar no estrangeiro é fonte de experiência, de conhecimento por observação, é ride someone else's learning curve. E pode demorar mais tempo a fazer efeito mas quando resulta, é catalisador fundamental de pioneirismo e desenvolvimento. Afinal, sair, observar e assimilar é um investimento a longo prazo, e como em todos os investimentos de grande retorno, os risco que se corre também é grande.

Numa visão ainda mais macro, o retorno torna-se maior do que a soma dos rendimentos individuais...numa visão ainda mais macro, o sacrifício dos vínculos patrióticos para abraçar um novo lar e cultura que nem sempre reconhece cidadania genuína, dá lugar a uma sabedoria que atravessa várias áreas de conhecimento e, numa perspectiva mais residual várias gerações. Porque mais do que o factor económico, o factor integração, o factor cultural ou mesmo o do conhecimento, algo mais fica...quando os dedos se vão, ficam os anéis do exemplo, do sacrifício, da descoberta e do horizonte por conhecer...

2 Comments:

Blogger Airness said...

Só se usares o conceito "ceteris paribus"!

12:07 PM  
Blogger Nuno said...

So me apetece chorar. O que é que tu andas a ler?! Eu quero escrever assim... tal e qual.

Por aqui está tudo bem. Não há grandes novidades. Vou a paris este mês numa business trip.

Beijos

4:57 PM  

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